Jérôme Kerviel sonhava em ser um operador excepcional, um ás do mundo das finanças admirado e paparicado por seus diretores. Ele queria ganhar muito dinheiro. Para isso, trabalhava dez horas por dia grudado em quatro telas de computadores e dois telefones no sexto andar da sede do banco francês Société Générale, no bairro empresarial de la Défense. Nem férias ele tirou no último ano para que sua fraude financeira, a maior da história, não fosse desmascarada. Aliás, foi seu passaporte vencido que ele teve de entregar à Justiça francesa após a descoberta do gigantesco prejuízo de quase € 5 bilhões (R$ 13 bilhões) que causou às contas do terceiro maior banco do país.
Nos três dias de interrogatórios, Kerviel assumiu ter dissimulado operações fictícias e fraudado os controles de segurança do Société Générale para realizá-las. Ele assumiu posições astronômicas, que atingiram € 50 bilhões, bem mais que o patrimônio líquido do banco. Sua motivação, revelada às autoridades judiciais, era simplesmente a de aparecer como um “antecipador dos mercados”, e ganhar, com seu esforço pessoal, mais dinheiro graças aos bônus obtidos com as transações. Até o momento, não foi descoberto nenhum desvio de dinheiro para suas contas pessoais.
“O homem de € 5 bilhões”, como vem sendo chamado, indiciado na segunda-feira 28, ganhava menos de € 100 mil por ano (R$ 262 mil), um dos salários mais baixos da profissão. Ele esperava, com as posições fraudulentas assumidas em 2007, receber um bônus de € 600 mil. O banco havia proposto pagar a metade, mas obviamente ele não recebeu nada até agora. Apesar de uma renda bem superior à da média nacional, o jovem operador de 31 anos está longe de desfrutar do grande luxo no qual vivem muitos de seus colegas com diplomas de universidades bem mais renomadas do que a dele, um mestrado em finanças pela Universidade de Lyon II.
Seu apartamento com um quarto e sala, alugado, de 50 metros quadrados em Neuilly-sur-Seine, subúrbio chique nos arredores de Paris, onde residia o presidente Nicolas Sarkozy, tem uma decoração espartana. Os policiais da brigada financeira não encontraram muita coisa no local: pouquíssimos móveis, uma gigantesca TV, o que dá uma idéia do que ele costuma fazer em casa, uma caixa de charutos Montecristo, dois celulares, um livro sobre regras bancárias e uma edição da revista econômica “Investir”. A reportagem de capa é “Como enriquecer em 2008”. A publicação francesa é normalmente lida por pequenos investidores individuais, sobretudo de meia-idade. Nada do tipo que os grandes especialistas de mercados da City, em Londres, costumam ler.
Kerviel entrou no banco Société Générale em agosto de 2000, logo após ter se formado e realizado um estágio de seis meses no BNP Arbitrage. Na faculdade, não deixou grandes lembranças aos professores. “Se ele era um gênio, não reparamos”, diz Dominique Charbet, responsável pelo mestrado de finanças. No trabalho, era considerado pelos colegas como alguém “apagado” e até mesmo “esquisito”. “Ele falava pouco e respondia quase sempre com apenas um sim ou não”, diz um deles. Tímido e reservado, segundo alguns, Kerviel poderia simplesmente ser alguém obcecado pela vontade de se sobressair e dominado pela ganância. E também um frustrado, segundo seu próprio depoimento à Justiça.
Ele começou suas atividades no “middle-office” do Société Générale, em serviços administrativos, encarregado de auxiliar os operadores. É um ambiente tão cinzento e frio que é chamado de “mina”. Cinco anos depois, conquistou o sonho de se tornar um trader. Nesse meio tempo, melhorou sua imagem e passou a se vestir com mais elegância. A ponto de ganhar o apelido de “Tom Cruise”. Mas Kerviel não era uma estrela do prestigioso “front-office”, em que era encarregado de assumir posições nos mercados futuros. Não tinha o mesmo status de outros operadores especialistas em sofisticados cálculos matemáticos. “Constatei na minha primeira entrevista, em 2005, que eu era bem menos considerado do que meus colegas em razão da minha formação universitária e do meu percurso profissional e pessoal. Não entrei diretamente no front-office e sou o único nesse caso”, declarou Kerviel, durante seu interrogatório.
Nos três dias de interrogatórios, Kerviel assumiu ter dissimulado operações fictícias e fraudado os controles de segurança do Société Générale para realizá-las. Ele assumiu posições astronômicas, que atingiram € 50 bilhões, bem mais que o patrimônio líquido do banco. Sua motivação, revelada às autoridades judiciais, era simplesmente a de aparecer como um “antecipador dos mercados”, e ganhar, com seu esforço pessoal, mais dinheiro graças aos bônus obtidos com as transações. Até o momento, não foi descoberto nenhum desvio de dinheiro para suas contas pessoais.
“O homem de € 5 bilhões”, como vem sendo chamado, indiciado na segunda-feira 28, ganhava menos de € 100 mil por ano (R$ 262 mil), um dos salários mais baixos da profissão. Ele esperava, com as posições fraudulentas assumidas em 2007, receber um bônus de € 600 mil. O banco havia proposto pagar a metade, mas obviamente ele não recebeu nada até agora. Apesar de uma renda bem superior à da média nacional, o jovem operador de 31 anos está longe de desfrutar do grande luxo no qual vivem muitos de seus colegas com diplomas de universidades bem mais renomadas do que a dele, um mestrado em finanças pela Universidade de Lyon II.
Seu apartamento com um quarto e sala, alugado, de 50 metros quadrados em Neuilly-sur-Seine, subúrbio chique nos arredores de Paris, onde residia o presidente Nicolas Sarkozy, tem uma decoração espartana. Os policiais da brigada financeira não encontraram muita coisa no local: pouquíssimos móveis, uma gigantesca TV, o que dá uma idéia do que ele costuma fazer em casa, uma caixa de charutos Montecristo, dois celulares, um livro sobre regras bancárias e uma edição da revista econômica “Investir”. A reportagem de capa é “Como enriquecer em 2008”. A publicação francesa é normalmente lida por pequenos investidores individuais, sobretudo de meia-idade. Nada do tipo que os grandes especialistas de mercados da City, em Londres, costumam ler.
Kerviel entrou no banco Société Générale em agosto de 2000, logo após ter se formado e realizado um estágio de seis meses no BNP Arbitrage. Na faculdade, não deixou grandes lembranças aos professores. “Se ele era um gênio, não reparamos”, diz Dominique Charbet, responsável pelo mestrado de finanças. No trabalho, era considerado pelos colegas como alguém “apagado” e até mesmo “esquisito”. “Ele falava pouco e respondia quase sempre com apenas um sim ou não”, diz um deles. Tímido e reservado, segundo alguns, Kerviel poderia simplesmente ser alguém obcecado pela vontade de se sobressair e dominado pela ganância. E também um frustrado, segundo seu próprio depoimento à Justiça.
Ele começou suas atividades no “middle-office” do Société Générale, em serviços administrativos, encarregado de auxiliar os operadores. É um ambiente tão cinzento e frio que é chamado de “mina”. Cinco anos depois, conquistou o sonho de se tornar um trader. Nesse meio tempo, melhorou sua imagem e passou a se vestir com mais elegância. A ponto de ganhar o apelido de “Tom Cruise”. Mas Kerviel não era uma estrela do prestigioso “front-office”, em que era encarregado de assumir posições nos mercados futuros. Não tinha o mesmo status de outros operadores especialistas em sofisticados cálculos matemáticos. “Constatei na minha primeira entrevista, em 2005, que eu era bem menos considerado do que meus colegas em razão da minha formação universitária e do meu percurso profissional e pessoal. Não entrei diretamente no front-office e sou o único nesse caso”, declarou Kerviel, durante seu interrogatório.
Filho de um ferreiro que fabricava camas de metal, falecido em 2006, e de uma cabeleireira que tinha um pequeno salão, chamado “Chez Marie-Jo”, no vilarejo de Pont-l’Abbée, na Bretanha, com apenas oito mil habitantes, o operador hoje com notoriedade planetária teve um percurso praticamente ordinário até o último dia 24, data do anúncio da megafraude financeira. Durante a adolescência, ele e seu irmão, Olivier, integraram o clube de futebol da cidade e praticavam vela e judô. A família unida e católica praticante é respeitada na região.
Bastante apreciado em Pont-l’Abbée, tido como “discreto, solícito e gentil”, Kerviel foi bom aluno na escola, principalmente em matemática. Chegou a disputar uma vaga de vereador na cidade nas eleições municipais de 2001 pelo mesmo partido do presidente Sarkozy. Mas era muito tímido para fazer campanha e não ganhou a eleição. Os moradores de Pontl’Abbée, que o viram pouco nos últimos anos, não hesitam em defendê-lo, acreditando que ele seja o bode expiatório de algum complô para esconder as perdas do banco.
Bastante apreciado em Pont-l’Abbée, tido como “discreto, solícito e gentil”, Kerviel foi bom aluno na escola, principalmente em matemática. Chegou a disputar uma vaga de vereador na cidade nas eleições municipais de 2001 pelo mesmo partido do presidente Sarkozy. Mas era muito tímido para fazer campanha e não ganhou a eleição. Os moradores de Pontl’Abbée, que o viram pouco nos últimos anos, não hesitam em defendê-lo, acreditando que ele seja o bode expiatório de algum complô para esconder as perdas do banco.
Kerviel também é discreto em relação à sua vida amorosa. Seus colegas no trabalho não sabiam nada a respeito. Seus vizinhos o consideram alguém solitário. Ele teria sido deixado pela namorada antes do anúncio do escândalo. Provavelmente, namorava uma muçulmana de origem estrangeira. Em seu apartamento, a polícia encontrou papéis de um pedido de naturalização em função de um casamento. Também havia um Alcorão escrito em árabe e com versão para o francês.
O presidente do Société Générale, Daniel Bouton, que correu o risco de perder o cargo na semana passada por causa de Kerviel, disse que nunca o encontrou. Agora que um comitê especial de crise foi criado para acompanhar o caso e que circulam fortes rumores de uma possível operação de compra do Société Générale pelo BNP Paribas por causa do prejuízo causado por Kerviel, o operador pode estar certo de uma coisa: já deixou sua marca no mundo das finanças.
O presidente do Société Générale, Daniel Bouton, que correu o risco de perder o cargo na semana passada por causa de Kerviel, disse que nunca o encontrou. Agora que um comitê especial de crise foi criado para acompanhar o caso e que circulam fortes rumores de uma possível operação de compra do Société Générale pelo BNP Paribas por causa do prejuízo causado por Kerviel, o operador pode estar certo de uma coisa: já deixou sua marca no mundo das finanças.
Da istoe.com.br
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