domingo, 2 de março de 2008

O embate da Vale com a Xtrata

A QUARTA-FEIRA 27, A NEGOCIAÇÃO ENTRE A VALE E A suíça Xstrata praticamente subiu no telhado. O que emperrava a venda já não era mais o preço, estimado em US$ 90 bilhões, mas sim a resistência dos suíços em aceitar os termos da operação. No desenho final, a Vale controlaria aquela que seria a maior mineradora do mundo, mas a Glencore, dona da Xstrata, ficaria com 15% das ações. Até aí, nada demais. O problema é que a Vale ofereceu aos suíços papéis preferenciais, sem direito a voto, mantendo o bloco de controle atual, com Bradesco e fundos de pensão à frente da operação. Foi isso que gerou o impasse, pois os suíços pleiteavam ações ordinárias da Vale e alguns assentos no conselho. Por trás do imbróglio, talvez esteja a mão de um dos mais agressivos e polêmicos empresários do mundo: o belga Marc Rich. Oficialmente, Rich não controla mais a Glencore, pois teria vendido suas ações para os funcionários em 1994 por US$ 500 milhões. A questão é que, no mercado de minérios, poucos acreditam nessa versão. Isso porque o fundador da Xstrata já foi um homem procurado pela Interpol – e a venda das ações teria sido apenas formal. De acordo com o jornalista Craig Copetas, que investigou o caso e publicou o livro “Metal Men”, a Glencore e a Xstrata seriam a fachada para os negócios de Rich. E o curioso é que ele vive em Zug, um dos cantões suíços onde se pagam menos impostos, que é também a sede das empresas.
O impasse atual dificilmente terá solução porque o governo brasileiro, que tem restrições ao negócio, jamais admitiria que os suíços ingressassem no bloco de controle da Vale. Além disso, o passado de Marc Rich, cuja vida caberia num filme de espionagem, é um bom argumento para os adversários da operação. Ele já foi acusado de romper o embargo comercial com o Iraque, pagando propinas para negociar o petróleo de Saddam Hussein. Da mesma forma, teria também furado o bloqueio à África do Sul, nos tempos do apartheid. Nos anos 80, Rich teve de fugir dos Estados Unidos, acusado de sonegação fiscal e de negociar petróleo com outro inimigo – o Irã dos aiatolás. Durante muito tempo, o bilionário esteve proibido de pisar em solo americano, até receber um polêmico indulto concedido pelo ex-presidente Bill Clinton, no final de seu segundo mandato, em 2001. Recentemente, foi acusado de manter ligações com os bilionários da máfia russa e até de ter sido agente do Mossad, o serviço secreto israelense.
Avesso à imprensa, Rich raramente é visto em eventos sociais. De acordo com Claire Divver, porta-voz da Xstrata, ele jamais teve qualquer relação societária com a mineradora. Apesar das controvérsias a seu respeito, ele mantém uma fundação que já investiu US$ 135 milhões em programas educacionais e em pesquisas de combate à leucemia. Caso a fusão ocorra, o que parece cada vez menos provável, Vale e Xstrata formariam um grupo gigantesco, com uma receita global de US$ 80 bilhões. Mas, para que isso aconteça, os suíços – com ou sem Marc Rich – terão de renunciar a qualquer ambição de poder na futura empresa.
O LUCRO FANTÁSTICO DA VALE
Já passava das 20h da quinta-feira 28, quando a Vale anunciou a prévia de seu balanço, consolidando sua posição entre as gigantes mundiais. O lucro da companhia alcançou a marca inédita de R$ 20 bilhões, cifra tão expressiva que, no Brasil, somente três empresas privadas brasileiras superam esse valor em faturamento, segundo o ranking das “500 Melhores da DINHEIRO”. Este foi o quinto ano consecutivo de crescimento do lucro da empresa, que pode se tornar a maior mineradora do mundo, caso compre a Xstrata.
Da istoedinheiro.com.br

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