domingo, 2 de março de 2008

Saimos do buraco!

Apesar de toda a preocupação com um possível desaquecimento da economia mundial desde agosto, o lucro da Vale aumentou 49% e atingiu recorde de R$ 20 bilhões em 2007.
Apesar dos solavancos recentes nos mercados, o Conselho Monetário Nacional acaba de aprovar a entrada de novos bancos estrangeiros no Brasil. Está na lista o americano Lehman Brothers.
Apesar do repique global no preço dos alimentos no segundo semestre do ano passado, o IGP-M aponta inflação menor em fevereiro.
O caso da Vale é particularmente ilustrativo. Os resultados da maior produtora mundial de minério de ferro cresceram 49% em 2007 na comparação com os do ano anterior – quando não havia nem sinal de crise. Explica-se: a China é o principal destino das vendas da empresa, e lá o crescimento continua a todo vapor. A Vale espera, assim, que a expansão das economias chinesa, indiana e de outros países emergentes compense, pelo menos em parte, a desaceleração dos mercados mais desenvolvidos.
Enquanto isso, Bernanke sua a camisa para convencer seus conterrâneos de que os EUA não estão a caminho de uma estagflação. A economia americana cresceu 0,6% no quarto trimestre de 2007. Uma desaceleração preocupante ante os 4,9% do terceiro trimestre.
Para complicar as coisas, o petróleo bateu em US$ 102 o barril, e o ouro está na casa de mil dólares a onça. Ou seja, os ativos medidos em dólar estão caríssimos. Justamente porque o dólar não pára de perder valor.
O colunista de macroeconomia da Business Week, James Cooper, resume a situação dizendo que Bernanke enfrenta fortes ventos de proa. “O crédito mais apertado está se espalhando, a inflação está subindo, e empresas e cidadãos estão sentindo pouco alívio com os cortes de juros do Fed”, afirma Cooper. “Até agora em 2008, pouco parece estar dando certo para a economia dos EUA ou para os esforços do Federal Reserve para mantê-la no curso. Na verdade, duas coisas muito importantes estão indo na direção errada: a inflação e as taxas de juros de longo prazo.”
Bernanke está sob fogo cruzado. Comentei ontem sobre as críticas a ele por deixar o medo da recessão dominar as ações do Fed, em detrimento do combate à inflação e da preservação do valor do dólar. Hoje, leio na nova Business Week um artigo chamado “Lições da Depressão” que diz: “Bernanke, um estudante da era (da Grande Depressão iniciada em 1929), provavelmente evitará os erros cometidos então e manterá as taxas baixas – apesar da inflação”.
A revista lembra que Bernanke disse, no passado, que o Fed piorou a depressão. E cita uma declaração dele de novembro de 2002: “O banco central da (…) mais importante nação em 1929 era essencialmente sem liderança e carecia de expertise”.
Convém não subestimar a relevância dessa discussão, em princípio bem americana, para o mundo. Como diz o Wall Street Journal de hoje, “detonado por temores de uma recessão nos EUA, o dólar está caindo com nova velocidade – criando severos desafios não apenas para os EUA, mas também para corretores de açúcar no Brasil, banqueiros centrais no Golfo Persa e um monte de outros.” O Journal apresenta estatísticas sobre a importância do dólar na economia global, mas joga água fria na fervura de catastrofistas e anti-americanos: “O poder das verdinhas enfrenta um teste severo, mas não há rivais à vista.” Em suma, temos de nos preparar para aprender a viver com um dólar fraco.
Do blog financasdebolso.com.br

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