sábado, 2 de agosto de 2008

Ela quer mudar a Ford

Nas últimas décadas os executivos das montadoras americanas fecharam os olhos e os ouvidos para qualquer sugestão de mudança no jeito de produzir e vender carros nos Estados Unidos. Reféns de um modelo de negócio baseado em veículos enormes, beberrões e altamente poluentes, elas acabaram pagando um preço alto por essa arrogância corporativa. Os efeitos mais danosos foram: a perda da liderança de mercado, cada vez mais dominado pelas rivais asiáticas, e a crise financeira, que já coloca em dúvida até mesmo a sobrevivência de corporações centenárias. É o caso da Ford Motor Company, cujo balanço do segundo trimestre deste ano registrou prejuízo histórico de US$ 8,7 bilhões. É verdade que uma grande fatia dessa bolada (US$ 8 bilhões) se deve a baixas contábeis, como depreciação de ativos, além do mau desempenho da divisão financeira Ford Motor Credit. Mas nem por isso o quadro é menos preocupante. E é exatamente com as lições renegadas no passado pelo setor que a montadora pretende dar a volta por cima. "Nosso desafio é tornar a Ford uma empresa mais ágil em sua política produtiva e também na forma de se relacionar com os consumidores", diz Susan Cischke, vice-presidente mundial de sustentabilidade, meio ambiente e segurança da Ford Motor Company. Em sua rápida passagem pelo Brasil, no final de julho, a executiva contou o que a corporação está fazendo para colocar as contas em ordem. "Para sobreviver nesse setor precisaremos operar com equilíbrio tanto no aspecto financeiro quanto no social e ambiental", completa.
Engenheira de formação, Susan possui uma visão pragmática. "A maioria dos americanos só despertou para a questão ecológica em função da escalada dos preços do petróleo", argumenta. Foi por isso que a empresa decidiu começar as mudanças exatamente pelos veículos de grande porte, os utilitários esportivos (SUV, na sigla em inglês). Uma parte deles já roda com motores híbridos (movidos a gasolina e eletricidade) e flex (etanol e gasolina) desenvolvidos pela Ford. "Em 2012 esperamos que metade de nossas vendas seja de produtos flex", diz. Além disso, a companhia está apostando em materiais mais leves e ecológicos, como fibras vegetais (na confecção da espuma dos bancos) e madeira reciclada (na decoração do painel). Faz parte do plano, ainda, ampliar a fatia de veículos de pequeno e médio portes em seu portfólio. O primeiro dessa safra será o Fiesta europeu cuja produção começa em 2010 na planta de Cuautitlán (México).
Com essas iniciativas, a Ford espera também dar conta de uma ousada agenda ambiental. A meta é reduzir, em 30%, até 2020, a emissão de dióxido de carbono (CO2) gerada pelos cerca de 2,8 milhões de veículos que comercializa anualmente nos EUA, México e Canadá. Segundo Susan, o carro do futuro terá mais componentes recicláveis, será mais econômico e menos poluente. "Atualmente, nossos engenheiros estão debruçados no desenvolvimento de nada menos que 20 veículos com esse perfil", informa. A transição da Ford para esse cenário, segundo ela, não deverá ser difícil. Isso porque as filiais da montadora na América Latina e na Europa já operam dentro de outra realidade. Especialmente no Brasil, onde, além do uso intensivo do motor flex, os técnicos conseguiram criar veículos robustos e econômicos. O melhor exemplo, segundo ela, é o Ecosport. "O trabalho feito no Brasil tem sido uma grande inspiração para nós", destaca a executiva.
Por ROSENILDO GOMES FERREIRA da istoe.com.br

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