sábado, 2 de agosto de 2008

Oi aposta em IPhone para entrar em SP

Conhecido pelo perfil ultracompetitivo, o presidente da Oi, Luiz Eduardo Falco, nunca dispensou uma boa briga. Desde os tempos em que ainda era um jovem estudante de engenharia aeronáutica no ITA, Falco vem suando o colarinho para assegurar uma posição entre os melhores, seja numa partida de futebol, seja numa feroz disputa de mercado. Até aqui, Falco tem colecionado mais vitórias que reveses. Como vice-presidente de marketing da TAM, até então uma companhia aérea regional, Falco deflagrou uma disputa pelos céus do Brasil com a Varig e a Transbrasil. Venceu. Em 2002, quando deixou a companhia, a TAM era líder de mercado, com participação de 37%. Na Oi, Falco armou-se para mais uma contenda: transformar uma startup de celulares num negócio relevante dentro da antiga Telemar. Conseguiu de novo. A operação móvel é hoje a segunda maior fonte de receita do grupo. Quatro anos mais tarde, ele entrou na disputa com Ronaldo Iabrudi pela presidência da empresa. Mais uma vitória. Em abril deste ano, veio a consagração: Falco bateu Ricardo K, presidente da Brasil Telecom, na queda-debraço pelo comando da supertele. Agora, ele se prepara para mais um confronto: a entrada da Oi no mercado de São Paulo, o maior do país, com mais de 30 milhões de usuários de celular. Será a primeira aventura da operadora fora de sua área de concessão e um dos desafios mais difíceis na carreira do executivo. A meta de Falco é atingir a liderança de mercado em apenas quatro anos. “Vamos entrar com tudo”, diz ele.
Na disputa pela mente — e pelo bolso — dos consumidores paulistas, que contam com o maior poder aquisitivo do país, a Oi pretende investir até outubro, data do início de suas operações, cerca de 1 bilhão de reais. A estratégia da empresa vai se concentrar em duas frentes. De um lado, a Oi vai apostar no desbloqueio de aparelhos e na venda de chips desvinculados do celular, iniciativas que têm sustentado seu crescimento ao longo dos últimos quatro anos. A idéia é que os chips da Oi sejam encontrados em supermercados, padarias e bancas de jornal, algo que não ocorre com as demais operadoras. Para promover o desbloqueio de aparelhos, Falco deve lançar mão de uma estratégia, no mínimo, inusitada. Ele quer negociar com a Apple a venda de iPhones desbloqueados . Nessas condições, o preço do aparelho pode ultrapassar 2 000 reais, ou quase quatro vezes o valor que deve ser cobrado pelas outras operadoras para vender o celular no país — mas não deixa de ser uma jogada de marketing. “Vou entrar na briga pelo iPhone”, diz Falco. “O consumidor tem o direito de adquirir um aparelho desbloqueado.” Em outra frente, a Oi vai investir em planos agressivos de tarifas e na oferta de serviços de banda larga, inclusive para o segmento pré-pago, uma novidade no setor. “Vamos crescer principalmente em nichos não atendidos pelas outras operadoras”, afirma Roderlei Generali, diretor de mercado da Oi, responsável pela implantação da operadora em São Paulo.
DESDE QUE FOI CRIADA, em junho de 2002, como um braço de telefonia móvel da antiga Telemar, a Oi vem se valendo de estratégias agressivas como forma de ganhar mercado. Sob o comando de Falco, a operadora foi pioneira na implantação da tecnologia GSM no Brasil e a primeira a fazer uso da convergência entre os serviços de telefonia móvel, fixa e de transmissão de dados — algo até então impensável na estrutura das empresas de telefonia. O lançamento de campanhas como o Oi 31, que permite aos usuários fazer ligações gratuitas aos fins de semana durante 31 anos (o número é uma referência ao código da operadora para chamadas de longa distância), e a venda de chips e celulares desbloqueados catapultaram o crescimento da Oi, que se transformou numa das principais geradoras de receita do grupo, com faturamento de 4,4 bilhões de reais em 2007. Com apenas seis anos de existência, a companhia assumiu a liderança em sete dos 16 estados em que atua, transformando-se na quarta maior operadora de celulares do país. O sucesso da Oi acabou alçando Falco à presidência do grupo Telemar (posteriormente batizado Oi), em 2006, e fez dele a escolha óbvia para comandar a supertele após a aquisição da Brasil Telecom, em abril. “A Oi sempre ousou mais na briga por mercado”, afirma Jean-Claude Ramirez, da consultoria Bain & Company.
Diante do iminente ataque da Oi ao maior mercado do país, as concorrentes TIM, Vivo e Claro vêm estudando possíveis estratégias para conter o avanço da operadora carioca. No início do ano, em uma conferência com analistas, o presidente da Vivo, Roberto Lima, afirmou que a companhia já estava reservando parte de seu caixa para uma eventual guerra de tarifas e subsídios de aparelhos — e, com isso, manter-se na liderança do mercado. A Claro, que pertence ao bilionário mexicano Carlos Slim, apressou-se em lançar a tecnologia 3G no final do ano passado e estuda relançar no mercado promoções de tarifas reduzidas, como a de 6 centavos o minuto. A TIM, depois de ter problemas com o segmento pré-pago no final de 2007, decidiu investir na qualidade da cobertura e na rede de distribuição. No primeiro semestre, a TIM investiu cerca de 50 milhões de reais na instalação de novas antenas de transmissão no interior de São Paulo e na ampliação dos postos de distribuição de aparelhos. “Já enfrentamos a Oi em outros estados”, afirma Carlos Cupo, diretor da TIM para São Paulo. “Estamos preparados. Será preciso mais do que chip e desbloqueio de aparelho para vencer aqui.”
Mesmo contando com planos agressivos, Falco ainda terá de vencer alguns obstáculos se quiser conquistar a liderança em um mercado como São Paulo. Isso porque, fora de sua área de concessão, a Oi não poderá lançar mão de sinergias com a rede fixa, um de seus principais motores de crescimento. Além disso, a Oi é a única das grandes operadoras que não oferece cobertura nacional, o que pode dificultar sua penetração entre o público formado por executivos, um dos mais rentáveis. A estratégia da operadora de centrar esforços na oferta de chips e planos com tarifas reduzidas, apesar de ter se provado um sucesso em alguns estados do Nordeste, ainda não se mostrou vencedora nos dois maiores mercados da Oi: Rio de Janeiro e Minas Gerais. Em ambos os estados, a liderança ainda pertence à Vivo. “Em mercados sofisticados, com uma população de maior poder aquisitivo, a qualidade do serviço conta mais que o preço”, diz Rogério Roman, da consultoria PricewaterhouseCoopers. Ainda é cedo para saber se esse fator será, de fato, um empecilho para a operadora carioca. Mas, do jeito que a empresa vem se movimentando para entrar no mercado paulista, não vai haver meio-termo. Ou São Paulo vai aumentar o rol de conquistas de Falco ou, ao contrário, irá se tornar seu primeiro retumbante fracasso.
Por Carolina Meyer da exame.com.br

Ela quer mudar a Ford

Nas últimas décadas os executivos das montadoras americanas fecharam os olhos e os ouvidos para qualquer sugestão de mudança no jeito de produzir e vender carros nos Estados Unidos. Reféns de um modelo de negócio baseado em veículos enormes, beberrões e altamente poluentes, elas acabaram pagando um preço alto por essa arrogância corporativa. Os efeitos mais danosos foram: a perda da liderança de mercado, cada vez mais dominado pelas rivais asiáticas, e a crise financeira, que já coloca em dúvida até mesmo a sobrevivência de corporações centenárias. É o caso da Ford Motor Company, cujo balanço do segundo trimestre deste ano registrou prejuízo histórico de US$ 8,7 bilhões. É verdade que uma grande fatia dessa bolada (US$ 8 bilhões) se deve a baixas contábeis, como depreciação de ativos, além do mau desempenho da divisão financeira Ford Motor Credit. Mas nem por isso o quadro é menos preocupante. E é exatamente com as lições renegadas no passado pelo setor que a montadora pretende dar a volta por cima. "Nosso desafio é tornar a Ford uma empresa mais ágil em sua política produtiva e também na forma de se relacionar com os consumidores", diz Susan Cischke, vice-presidente mundial de sustentabilidade, meio ambiente e segurança da Ford Motor Company. Em sua rápida passagem pelo Brasil, no final de julho, a executiva contou o que a corporação está fazendo para colocar as contas em ordem. "Para sobreviver nesse setor precisaremos operar com equilíbrio tanto no aspecto financeiro quanto no social e ambiental", completa.
Engenheira de formação, Susan possui uma visão pragmática. "A maioria dos americanos só despertou para a questão ecológica em função da escalada dos preços do petróleo", argumenta. Foi por isso que a empresa decidiu começar as mudanças exatamente pelos veículos de grande porte, os utilitários esportivos (SUV, na sigla em inglês). Uma parte deles já roda com motores híbridos (movidos a gasolina e eletricidade) e flex (etanol e gasolina) desenvolvidos pela Ford. "Em 2012 esperamos que metade de nossas vendas seja de produtos flex", diz. Além disso, a companhia está apostando em materiais mais leves e ecológicos, como fibras vegetais (na confecção da espuma dos bancos) e madeira reciclada (na decoração do painel). Faz parte do plano, ainda, ampliar a fatia de veículos de pequeno e médio portes em seu portfólio. O primeiro dessa safra será o Fiesta europeu cuja produção começa em 2010 na planta de Cuautitlán (México).
Com essas iniciativas, a Ford espera também dar conta de uma ousada agenda ambiental. A meta é reduzir, em 30%, até 2020, a emissão de dióxido de carbono (CO2) gerada pelos cerca de 2,8 milhões de veículos que comercializa anualmente nos EUA, México e Canadá. Segundo Susan, o carro do futuro terá mais componentes recicláveis, será mais econômico e menos poluente. "Atualmente, nossos engenheiros estão debruçados no desenvolvimento de nada menos que 20 veículos com esse perfil", informa. A transição da Ford para esse cenário, segundo ela, não deverá ser difícil. Isso porque as filiais da montadora na América Latina e na Europa já operam dentro de outra realidade. Especialmente no Brasil, onde, além do uso intensivo do motor flex, os técnicos conseguiram criar veículos robustos e econômicos. O melhor exemplo, segundo ela, é o Ecosport. "O trabalho feito no Brasil tem sido uma grande inspiração para nós", destaca a executiva.
Por ROSENILDO GOMES FERREIRA da istoe.com.br